Terceiro Capítulo: os Povos Tradicionais de Terreiro

Olá Ponteirada

Muito se tem escrito aqui nesta Lista sobre a diversidade cultural, de linguagem, social, econômica, regional, política, acadêmica… entre os Pontos de Cultura.
Este, aliás, via de regra, é o argumento usado para as eventuais divergências e/ou dificuldades encontradas para a consolidação do Programa Cultura Viva como Movimento Social (social cultural).
Eu mesmo já cheguei a acreditar nisso. Ainda que sem muita convicção.
Depois de conviver quase uma semana com os Povos Tradicionais de Terreiro a primeira coisa que aprendi é o porquê do plural para as expressões Povos e Terreiros.
Eu não tinha ideia da diversidade que existe dentro deste universo da matriz africana.
Hoje acho até graça ao falar da nossa diversidade de Pontos.
São tantas “Nações”, com suas particularidades e especificidade!
São tantos “postos” na hierarquia de um Terreiro!
São tão delicadas as relações de gênero entre esses Povos!
São tamanhas as diferenças ritualísticas na religiosidade desses Povos!
São tantos anos de sofrimento a alimentar exponencialmente toda sorte de desconfiança!
Enfim, nem mesmo a pigmentação da pele negra se traduz com a mesma tonalidade.
Muito provavelmente (não sou um especialista da matéria) muitas dessas diferenças nem sempre são tratadas de forma exemplarmente cordial. Pode ser.
Mas o que vimos durante a Cúpula dos Povos, na nossa Tenda dos Povos Tradicionais de Terreiro foi um curso de Doutorado na busca de pontos de convergência entre essas distintas Culturas.
E a lição mais preciosa que nos foi legada por esses Povos foi justamente a sua sabedoria de catalisar seus pontos de convergência a partir da narrativa de suas manifestações culturais e religiosas.
Seus tambores (que expressam linhas melódicas distintas, mas determinam da mesma forma a pulsação do coração); suas danças (que independente do gestual diferenciado, está preso à mesma roda); suas vestimentas (que a despeito do corte e das cores dos tecidos, invocam sempre o sagrado); suas obrigações (com devoção altiva)…
Numa apropriação de signos mais fortes que os seus usuários/devotos, numa subalternidade digna a valores maiores e distantes do próprio umbigo.
Esta foi a herança bendita que recebemos desses Povos, nesses dias de convívio.
Um estágio de rede que não se amarra por nós, que é líquida como a água, com sua rede de moléculas de H e O, sempre unidas e fluidas, se moldando à forma dos seus recipientes, sem perder as suas propriedades específicas, inclusive nas mudanças de estados – sólido e gasoso – por fatores externos.
Porque um Movimento se organiza por intenções e não por acordos.
E em meio a todas as diferenças/divergências o que não falta a esses Povos é clareza de intenções.
Beijos
Davy

 

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